quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

HISTÓRIA : O NAUFRÁGIO DO PRÍNCIPE DE ASTÚRIAS EM ILHABELA

( Foto cedida por Marcello de Ferrari)

Este é considerado o pior acidente ocorrido em costas brasileiras.

O PRÍNCIPE DE ASTÚRIAS foi construído nos estaleiros da Russel & Company, em Glasgow na Escócia e lançado ao mar em 30 de Abril de 1914. Pertencia à empresa de navegação espanhola Pinillos, Izquierdo y Compañia. Tinha cerca de 150 metros de comprimento, 19 metros de boca, 13 metros de pontal e um deslocamento de 17000 toneladas.

Fazia a rota Madri - Buenos Aires, quando na madrugada do dia 6 de Março de 1916 chocou-se contra as pedras da Ponta da Pirabura em Ilhabela/SP. Cerca de tres minutos após a colisão, suas caldeiras explodiram e cinco minutos depois do primeiro impacto, o navio afundou.

Sua carga era composta de 4500 toneladas de cobre, 800 toneladas de chumbo, 1700 toneladas de estanho, estátuas de bronze para o monumento ao General San Martin que fica no bairro Palermo em Buenos Aires, além de seus objetos caríssimos de prata e porcelana, usados para atender os passageiros.

O vapor francês VEGA e o navio PRÍNCIPE DE SATRUSTEGUI tentaram prestar auxílio. O comandante deste último relatou : "Às 21:02 horas, estava a 17 milhas do porto de Santos, quando recebi um radiograma de Mont Serrat, em que o agente de meu vapor em Santos me noticiava o naufrágio do Príncipe de Astúrias, ocorrido as 5 horas da manhã do corrente, nas proximidades da Ponta do Boi. Imediatamente governei a E em demanda daquele ponto, cujo meridiano voltei a cruzar a uma milha de 6, naveguei pela costa, desde a Ponta da Pedra Dura até a Enseada do Pirassubu, o segundo desde esta ponta até o local denominado Chave. Vendo mais tarde dois cadáveres, mandei arriar o bote número 1, no qual o recolhi, trazendo a bordo. Em seguida fiz vasculhar toda a região onde havia acontecido a submersão, alargando a área de reconhecimento da Baía do Sombrio até as costas da Ilha Vitória. Sem nada encontrar, retornei para o Sul em demanda dos botes, embarcando os dois cadáveres de mulheres que tinham à bordo do bote número 1..."

Foram encontrados cerca de 477 corpos que se espalharam pela Baía de Castelhanos em Ilhabela. A Praia da Caveira, como é conhecida em Ilhabela, recebeu este nome por causa deste fato.

Hoje, o que restou do PRÍNCIPE DE ASTÚRIAS está a uma profundidade que varia dos 15 aos 40 metros na Ponta da Pirabura.

Algumas fontes ainda citam :

* A data do naufrágio como sendo no dia 5 de Março de 1916 às 04:30 horas.
* Além da carga mencionada, o navio levava também 40000 libras esterlinas em moedas e jóias e uma carga de ouro diplomático não estimado.
* O navio trazia em seus porões, cerca de 1500 imigrantes ilegais que fugiam da Primeira Guerra Mundial na Europa. Caso isto seja verdadeiro o número de mortos chegaria a 2000 pessoas.
* Um único barco salva-vidas foi lançado ao mar e nele estava a maioria dos sobreviventes. Outros se agarraram a pedaços do navio que flutuava e foram resgatados pelo navio Vega (cerca de 100).
* O comandante Lotina e seu primeiro imediato, se suicidaram com um tiro ao verem o ocorrido.
* A Capitania dos Portos após recolher alguns corpos, improvisou um cemitério num local conhecido como Serraria, local este que hoje está coberto pela areia.
* O PRÍNCIPE DE ASTÚRIAS contava com um casco duplo, porões de alagamento para que o lastro da embarcação fosse aumentado quando o mesmo tivesse com pouca carga, visando manter a estabilidade do navio além de bombas de grande capacidade para encher os porões de lastro em curto espaço de tempo. Tinha capacidade de transportar 150 passageiros na primeira classe, 120 na segunda classe, 120 na segunda classe econômica e 1500 na terceira classe. Em suas acomodações, tinha sauna, salão de jogos e danças, amplo restaurante e convés de observação.
* Algumas das pessoas que participaram da expedição que recuperou parte da carga do PRÍNCIPE DE ASTÚRIAS : Oberdan Fieldini, Ivo de Andrade, José Carlos Ramalho, Werner Krauss, Adolfo Melchart de Barro, Oene Pires Brito.

( Texto : Wilson Luiz Negrini de Carvalho )

Fontes de pesquisa :

* Revista SCUBA ano V número 38
* Revista SCUBA ano IV número 28
* Museu da Fundação Mar em São Sebastião/SP
* Sr Marcello de Ferrari
* Catálogo de naufrágios e afundamentos do autor José Goes de Araujo
* Livro Sinistros Marítimos Costa de São Paulo 1900-1999 do autor José Carlos Rossini

Este artigo foi publicado pela primeira vez pelo autor, no antigo site MERGULHO BR em 2001.

Para você que gosta de histórias de naufrágios, deixo a sugestão deste livro:

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